O documento fotográfico como suporte de interpretação museográfica

Simpósio “O documento fotográfico pesquisado: projetos museográficos e montagem de exposições”
14 de novembro de 2008 - 14h
Coordenação: Profa. Dra. Liliane Guterres (NAVISUAL UFRGS, UCS e UNILASALLE)
Palestrantes:
Ivo Canabarro (Unijuí) – “A utilização da fotografia para a construção do conhecimento histórico”
Rafael Devos (BIEV e NAVISUAL, UFRGS) - “Animando documentos: coleções de crônicas etnográficas em vídeo, animações de fotografias e material iconográfico com documentos sonoros na montagem de narrativas em hipermídia.”
Ceres Storchi (Arq. UFRGS) - “O documento fotográfico como suporte de interpretação museográfica”
Debatedora: Jeniffer Cuty (PROPUR/UFRGS) 

“O documento fotográfico como suporte de interpretação museográfica”
Ceres Storchi (Arq. UFRGS)



Bom eu gostaria em primeiro lugar de agradecer a oportunidade de estar aqui apresentando este trabalho e também ao público que está assistindo esta explanação. Eu sou arquiteta, trabalho com museografia, hoje a minha produção é 90% na área de museus, seja na área da arquitetura, de projetos para museus, ou na área de museografia, projeto de exposições e de museologia. Eu trabalho também com alguns museus no interior e nesses museus a gente tem que fazer o trabalho do museógrafo também, no sentido de orientar a preservação dos acervos, a manutenção, a guarda desses acervos, e o enriquecimento do material documental dessas instituições.

A construção narrativa, para nós, ela é uma estratégia de projeto. Eu vou sempre me referir a nós porque o trabalho de museografia é um trabalho de equipe, é um trabalho de idas e voltas dentro do projeto, em contato com curadores. Quase nunca somos curadores, mas também fazemos trabalho de curador. Eu trabalho com o Nico Rocha, tem outras pessoas que trabalham comigo, a Jeniffer já trabalhou também, em algumas exposições, fora a equipe das instituições que são preciosas para o nosso trabalho. Dentro das instituições a cooperação dos profissionais é fundamental para a riqueza do trabalho, para o sucesso do trabalho. Não só o sucesso no sentido do número de visitantes, mas o sucesso no sentido de que todos nós a cada trabalho precisamos crescer, eu não vou falar em método, mas precisamos enriquecer as formas de fazer. Eu sempre digo que em museografia não se tem um método. A construção vai acontecendo, e ela acontece de forma distinta a cada trabalho.

Bem, o assunto aqui é fotografia, então vocês imaginam, nessa diversidade de assuntos e de instituições que se trabalha, muitas vezes a gente chega num lugar e não tem nem acervo. Tem uma história para contar, um museu para criar e não tem acervo. E as pessoas elas não entendem o que é um museu, muitas pessoas não sabem o que é um museu, elas acham que o museu é um lugar para guardar coisas. E elas estão ganhando coisas que precisam ser guardadas. E na verdade não é difícil fazer entender, as pessoas, independente do seu contexto social e cultural, elas entendem com uma certa rapidez o que é o trabalho do museu e porque se faz museus. 

No trabalho de museografia, a fotografia entra de várias maneiras. Ela pode ser simplesmente a fotografia porque é uma exposição de fotografias, então se está expondo o trabalho de alguém ou uma documentação sobre alguma coisa não no sentido de contar a história dessa coisa, pode ser uma exposição da fotografia como objeto. Nós já fizemos algumas, fizemos a exposição do Chambí na 4ª Bienal, do Verger, do Leon Ferrari. O trabalho do Leon Ferrari é bem interessante porque ele trabalha a fotografia como fotografia, ele faz um trabalho interpretativo da fotografia ao compor o seu trabalho de artista e ele tem um acervo do pai dele. O Leon é um senhor idoso, e tem o trabalho de acervo do seu pai que também fotografava e que têm em seu acervo fotos de um fotógrafo napolitano, um fotógrafo do início do século XX. Então neste trabalho do Ferrari eram fotos de três fotógrafos e ainda tinha o trabalho de artista do Ferrari. Foi forte a presença da fotografia como um documento mesmo, tem imagens da cidade, não sei se vocês viram, tinha uma foto em 360º, uma imagem de um terremoto em Nápoles. Foi bem interessante, a gente propôs colocar em (???) e ele pediu que não fosse em 360º, ele tinha toda uma explicação, que era assim realmente a questão do movimento em relação à foto, ele conhecia milimetricamente o que era essa documentação. A relação da cidade toda demolida em cada grau dessa angulação.

Mas aqui, neste trabalho foi mostrado como fonte de inspiração, pode-se dizer, porque a gente faz a construção museográfica, tem a construção fotográfica dentro da construção museográfica, a construção narrativa neste todo museográfico, então a foto nesse processo, ela está desde a informação inicial ao trabalho até no caso o que se coloca frontalmente ao observador e a construção final no espaço físico.

A questão do arquiteto no projeto museográfico, vou falar um pouco sobre isso porque no meu mestrado eu trabalho esse espaço entre o tomar contato com a necessidade presente no trabalho, seja ela temática, é quase sempre um tema, mas ela pode não ser um tema, esta extensão que vai desse conhecimento do material, até a decisão ativa sobre o que se vai configurar fisicamente. Eu considero esse espaço um espaço de respeito e humildade diante do que se coloca, por quê? Tem um arquiteto trabalhando nisso, foi muito bom ter encontrado esse texto do Louis Kahn, um arquiteto americano que fez projetos na Índia. Para ele era muito importante também esta questão do lugar, essa questão do que se coloca, ele dizia “entender o que esta coisa quer ser”, e eu acho que esse espaço da espera para entender o que aquilo quer ser é um espaço necessário, e é um espaço que às vezes envolve muito tempo de contato, escuta e observação, contato com a equipe que participa. Em muitas exposições se tem antropólogos, sociólogos, historiadores, museologos, fotógrafos, pesquisadores de outras áreas, pesquisadores de história oral. Tudo isso compõe esse substrato que está nesse tempo e depois entra num outro status, todos entramos com outro status no tempo da configuração física.

Eu vou apresentar alguma coisa e eu vou colocando o que... vocês podem também depois dizer como viram isso, vocês talvez tenham um entendimento diferente de como isso se coloca. Bem, aí é um pouco isso que eu estava falando, depois eu vou apresentar todos estes itens pontualmente, mas eu montei um gráfico que é: a foto no processo, se ela é uma foto mesmo no processo original. Tem ali depois uma colocação que é em função do tema e de certas especificidades do tema, que contribui tematicamente para a construção do espaço. A fotografia então, como eu falei, está como estratégia de intervenção, não estou mostrando exposições de fotografia. Então no que eu chamo de construção fotográfica como um contexto de informação, um contexto de ambiência e uma narrativa fotográfica, num seqüencial de fotos que contam mesmo uma história, que depende de uma história para ser contada.

Como documento original: esta é uma exposição sobre imigração que tem documentos, é uma exposição montada com documentos escolhidos pelas próprias pessoas que são retratadas na exposição. E a construção museográfica então é a foto criando uma certa ambiência, filtrando no caso de pele e membrana, no sentido de fazer uma mudança de espaço, uma mudança de status para o observador. E depois como espacialização de idéias no tema.

Bem, aqui nestas imagens, é uma exposição de arqueologia, também da 4ª Bienal, a mesma que teve o Chambí. Nós tivemos contato com esse acervo, são três acervos fortemente presentes e aí tem alguns elementos de acervo da Universidade Federal de Pelotas, tem acervos de Santa Catarina, mas ele é basicamente Banco Santos, do ex-Banco Santos, um acervo maravilhoso, o acervo do Oscar Landmann, que é um acervo particular, e o acervo do MAI. Foi curada pelo Eduardo Neves, e a gente conheceu estas coleções nos locais onde elas eram guardadas, onde estavam sendo restauradas. Essa exposição tratava de três estágios de transcendência dentro dessas culturas, que era a cultura Marajoara, Chavín, Moche e Tapajônica, da cultura andina pré-incaica e a nossa Tapajônica e Marajoara. Tratava destes momentos de transcendência que foram registrados nestes objetos. 

O Eduardo identificou nestas culturas, que eles usavam bebidas e elementos alucinógenos durante rituais sociais, então essas figuras, nós criamos uma classificação destes momentos da transcendência, e dividimos a exposição sequencialmente nestes diferentes momentos. Essa serpente, essa sinuosa, também é um pouco dos relatos e de questões que identificamos na literatura. Na verdade vários elementos inspiram, porque quando você vê uma foto e quer saber, então vai atrás da escrita e quando você vê a escrita você vai atrás da foto. Porque a escrita é extremamente estimulante iconograficamente, porque a escrita realmente faz com que se crie muita coisa e quando nós temos a foto, nós precisamos de toda a escrita, porque a foto é mais rica quando se tem uma escrita a respeito dela. Essas fotos elas foram utilizadas como ferramentas de projeto, de interpretação, porque o nosso trabalho é muito interpretativo para a construção narrativa e se propõe na configuração espacial, se objetiva, o retorno desta interpretação, os espaços são configurados com vistas a este retorno.

Bem, nesse trabalho eu digo que são narrativas fotográficas originais por quê? Todos esses quadros ali que vocês vêem, tem onze instâncias, são onze pessoas. Essa exposição foi em Minas, no Museu Abílio Barreto, sobre imigração em Minas Gerais. Belo Horizonte viveu um surto de imigração para a construção da cidade como capital de Minas Gerais em alternativa a Vila Rica, que era a capital anteriormente. A primeira reunião sobre esse projeto foi com o conselho do museu, que era um conselho formado por pessoas da Universidade, da Prefeitura e de pesquisadores do próprio museu. Esse museu é um museu pequeno, mas tinha lá na época uma equipe de 35 pessoas, operantes. Duas conservadoras maravilhosas e equipe de pesquisa histórica. Quando nós pegamos o trabalho já estava andando uma pesquisa, nesse sentido de identificar estas pessoas. Porque tem vários lugares, eles têm essa tradição do bar de esquina, então tem vários bares que são de imigrantes, e muitos deles ainda vivos, filhos desses imigrantes que vieram. Até os anos 40 veio muita gente, e depois eles tiveram um surto quando da implantação da FIAT. Nós queríamos fazer também essa parte que era da vinda da FIAT, mas não tinha material, não tinha como fazer, tinha que ter organizado mais para o tempo que se tinha. 

Então ali, esses documentos são documentos escolhidos, as pessoas escolheram o que elas achavam que contava a sua história. E é muito interessante, porque é tão diverso, como é diferente a escolha de uma pessoa para outra. Esses nove eu considero que foram muito bem escolhidos porque não tem foto de festa, são fotos e documentos de momentos muito preciosos, momento em que foi preso durante a ditadura, momento em que escreveu uma determinada música, momento que criou o bar, momentos desse tipo. Podem ver que tem uma ali que é só documento, não tem foto, eu não lembro para dizer quem era, mas eu ajudei a montar essas coisas lá também... Depois voltando, essas são questões... o que se fez? Se colocou frontalmente a essas pessoas que no caso são parte da cidade hoje, questões históricas da cidade, mapas, fotos de Belo Horizonte, tem todo um mar de fotos da cidade, questões dessa ordem. Depois tem uma vitrine que nós chamamos de Nau, essa nau tem objetos destas pessoas. 



Eles ficaram muito chocados no conselho porque o Nico fez uma pergunta assim “vocês querem uma exposição de lencinho, ou uma exposição...”, de lencinho no sentido de carregar o lencinho porque as pessoas poderiam chorar, no sentido de ser emocionante. E um assim bem intelectual ficou muito chocado, “como assim emocionado...”, ele ficou realmente preocupado, ele fez uma pergunta assim “qual é o método de vocês”, porque imagina, leva umas pessoas daqui para Minas, para fazer uma exposição, ele achou “vai ser uma porcaria isso né”, porque, pensar em fazer as pessoas chorarem... Mas não é, é que se realmente é representativo, estas pessoas saíram de suas terras e vieram, tem que ser uma coisa emocionante, tem que ser algo que toque. Então esses objetos têm todos uma história que é realmente emocionante, essas pessoas escolhem o que é forte na vida delas. Tinha uma senhora japonesa que foi babá de uma família no Japão e veio com a família para cá e essas histórias eram as mais incríveis. Essas fotos que estão nas paredes também são fotos escolhidas por eles, então praticamente todo o material... o único material que é do museu é o material onde mostra Belo Horizonte. Então essas fotos aí como eu falei foram usadas no original e aí nós usamos, o único efeito de uso cenográfico, iconográfico das fotos é naquela pele da entrada, que são os tecidos altos em que se colocou vários... todo o acervo fotográfico que tinha no museu e algumas coisas que eles forneceram, mas basicamente o material fotográfico é todo original.

Bom, isso aí é numa construção de fotografia como base para informação, isso é na exposição Visões da Terra, que foi no Museu Universitário. Então temos uma foto de uma geleira e ali os dados de atmosfera, constituição da água e questões desse tipo, por quê? Por que essa foto do gelo? Porque se conhece muito pouco do que está abaixo dos nossos pés e o gelo ainda é uma forma de informação, sempre novos dados são obtido a partir da perfuração, informação da constituição da água, então por isso que tem essa... isso é quase uma estratigrafia, mas não, é uma geleira mesmo, uma foto de uma geleira. E aqui é uma foto da NASA, tem um astronauta, essa foto está falando sobre o espaço, sobre a conformação das camadas no espaço.

Essa é outra exposição no Museu Universitário, a Bere, que está ali, foi responsável pela pesquisa sobre o professor A. Schultz, então foi o nosso rico ambiente museológico, porque as exposições da UFRGS elas são de disseminação cultural, nas que eu fiz se teve um pouco de ambiente museológico no sentido convencional de reconstituição de determinado espaço. 

O professor Mariath, que era um dos curadores dessa exposição ele tinha guardado alguns, e tem no Instituto de Biociências o material que era do professor A. Schultz que foi o fundador do Instituto de Biociências. E uma coisa bonita aqui na UFRGS é que os professores, quando eles têm oportunidade eles homenageiam os seus mestres, botam nomes nas exposições, se preocupam em mostrar o material e guardar o material, isso é muito interessante, é um respeito pelo saber, pela construção do saber, acho que é uma idéia bem bonita de ser levada adiante, de se mostrar para quem ensina também. E a Bere fez a pesquisa sobre o professor A. Schultz e construímos esse ambiente, mas eu aqui estou falando por causa do uso da fotografia. 

O professor A. Schultz fazia estas viagens de campo, como muitos professores ainda fazem hoje, mas tem uma documentação fotográfica muito interessante sobre isso. Então lá está ele nessa balsa, essa foto é muito interessante porque parece que a gente vai entrar junto na balsa, nós usamos esse ambiente, e usamos na lateral. A nossa idéia era usar essa foto da balsa aqui, que era no corredor. Mas ela ficava tão forte que praticamente ela travava ali. Na verdade o corredor ele tinha os dois sentidos, um sentido que levava a observação desse ambiente da reconstituição do gabinete do professor Schultz, e do outro lado tinha uma linha de tempo da evolução do conhecimento da Biociência, tinha a história inclusive dos viajantes, porque essa exposição tratava de herbários, então tem os herbários, eles tratam até hoje com acervo que viaja e com documentação de desenhos e de fotos. Então o que se construiu? Usamos essa foto do ônibus para construir isso que era o A. Schultz. Tem os livrinhos dele de anotações, é precioso, a gente consegue ler esse material. E ele com o ônibus, esse ônibus era da UFRGS.

Bem, aqui então a gente tem uma construção fotográfica que foi para o Espaço Mercosul, em Montevidéu, que era de uma exposição sobre os cem anos do Érico Veríssimo. E é muito interessante porque o Érico ele tinha uma relação extremamente amigável com a fotografia, ele é muito fotografado, eu acho que ele gostava de ser fotografado, tem fotos feitas por ele, tem desenhos feitos por ele. Tem um desenho ali que é uma ilustração de uma carta dele, de quando ele morava nos Estados Unidos. Então tem um seqüencial narrativo, por ele próprio, porque todo o texto é texto do Érico. A curadora foi a Elizabeth Torresini e eu acho que ela vê no Érico um deus, acho que ela não teria coragem de escrever, é uma questão assim de... É impressionante como ela pescou todos estes textos que é ele mesmo contando, você lê toda a vida dele através da palavra dele próprio, e não poderia deixar de ser, eu acho que ela tem razão.

Essa é uma construção... fizemos uma exposição para o IPHAN, lá no sítio, em São Miguel, e eles pediram que se construísse uma imagem que fosse uma imagem de memória, uma imagem de devaneios da memória. Então nos forneceram um acervo grande, fotografias de vários períodos, tem um fragmento lá da ruína, eu acho que é um topo de coluna, é um topo de coluna.

Bem, esse trabalho eu acho que é talvez a coisa mais impressionante que tem para mostrar tendo em vista o tipo de trabalho que vocês fazem. Há bastante tempo atrás eu fiz um trabalho para o SEBRAE (???) e eles nos mandaram em vários lugares, eu e outra consultora da área de história e uma consultora da área de museologia, para identificar trabalhos que deveriam ser feitos em vários lugares da região. Então tinha museus, igrejas, escolas, coisas assim. Esse foi o único lugar que eu visitei na época, isso eu vou ter que contar porque isso são aqueles tapas na cara que a gente leva, enfim... tem que avançar. Eu fiz um relatório dizendo que não valia a pena investir e fazer nada nesse lugar, eu tenho esse relatório escrito por mim e assinado. Aí um dia nos chamaram para ir exatamente neste lugar e eu mandei por e-mail o relatório, de novo. Eles chamaram assim, nós Tangram né, a empresa, nada a ver com o SEBRAE. Porque eles tinham recebido, o prefeito ganhou uma verba parlamentar para usar nesse lugar, do Ministério da Cultura, e o grande problema era que tinha que usar com cultura. E aí imagina, essa cidadezinha, como eles mesmo dizem, nem paróquia mais é. Tem uma igreja linda e vai um padre uma vez por semana, então eles tem uma mágoa enorme que o padre vai só uma vez por semana, rapidamente para rezar uma missa lá nessa igreja.



Essa edificação que tem lá era o colégio das freiras. E quando eu fui não tinha telhado, tudo caído, o acervo na chuva, tudo rachado, assim uma coisa impressionante. O que dava para fazer era “protege esse acervo”, era só o que dava para dizer e bem complicado porque coisas boas e bem comprometidas. Então quando nos chamaram de novo, fomos lá e eles tinham recuperado essa casa. Eu digo recuperado porque não dá para dizer que é restauração, foi uma coisa assim feita... as janelas não estão bem vedadas, as portas não são bem vedadas, mas digamos foi feito uma higienização, pintura, solidificação de coisas que estavam caindo, esse tipo de intervenção. E aí nós fomos, eu e o Nico, e como se diz, estávamos num beco sem saída. O acervo, enquanto fizeram a recuperação esse acervo ficou jogado, tinha até sujeira de porcos, nós temos fotos disso. Viemos de lá apavorados “e agora o que vamos fazer”, porque ninguém quer se ver associado a uma ação de abandono, a gente foge de situações assim. 

E aí se começou o trabalho e um dia o prefeito disse “Ceres eu preciso que tu venhas à noite porque agora já é época e eles estão plantando e eu preciso que alguém convença essa comunidade que esse dinheiro tem que ser usado nisso”. Porque realmente eles não podem usar em outra coisa, e as pessoas, vereadores, as pessoas acham que tem que fazer estrada, comprar máquina, porque realmente eles precisam de estrada, precisam de máquinas, e o dinheiro do Ministério da Cultura tem que ser usado naquilo ali. Então eu fui uma noite e expliquei, apresentei o projeto, disse o que iria fazer e surpreendentemente essas pessoas da comunidade, essa comunidade são... que moram lá eu acho que oito casas espalhadas talvez em 10, 15 Km, e eles mesmos já começaram também a projetar. Falei que queria usar uma casa, a foto de uma casa, coloquei mais ou menos qual era a intenção, e aí eles prontamente já foram escolhendo, ajudando a escolher a paisagem, escolher a casa, tudo né, isso foi bem interessante. E a montagem depois foi mais interessante ainda porque eles entravam e diziam, “isso não pode estar assim, isso tem que estar assado”. Cinco dias, todo mundo participou, iam depois do horário do plantio, porque já era primavera, as roças estavam andando então vinham, horário de verão, vinham tarde para participar. 

Bem, então o que a gente tinha lá? Tinha algum relato deles, que era da época do SEBRAE, entrevistas que a Naida Menezes fez, várias entrevistas. Tem lá na região um centro de genealogia, nós fomos para o centro de genealogia, que esse padre, ele fez caixas das famílias, ele tem aquelas caixas de camisa com fotos das famílias, mas ele fez de muitas famílias. Ele fazia isso sozinho, então ele batia a história... acho que porque não tinha papel, ele batia atrás de embalagens com aquela letrinha que é a letrinha da máquina quando a gente dava aquele tipo de (???) que era a letrinha que ficava por primeiro, segundo, que nem o azinho, ele fazia tudo na letrinha pequenininha e tudo junto os relatos, tem isso tudo escrito, sendo digitalizado. 

Na exposição se usou uma casa, um ambiente tem essa casa, que é uma casa que existe, e eles moram naquela casa que aparece no cantinho e essa casa está do lado, usam de celeiro, é uma casa linda, olha só. Então depois se colocou essas figuras para compor e depois em uma outra sala nós decidimos trabalhar com a imagem que mostra as pessoas hoje, porque achamos que era mais representativo. O acervo foi em grande parte recuperado para colocarmos na exposição, tem uma foto de um senhor trabalhado nuns bancos, tem bancos para fazer tamanco, tem bancos para fazer várias coisas, material de carpintaria, praticamente tem todo o material de construção de casas e de lavoura, e outro material que é da história das famílias, então se deixou só essas fotos como elas são, essas fotos em álbuns. O painel estava vazio, porque acho que essa história tem que ser melhor pesquisada, não nos sentimos no direito de eleger famílias para o painel, então montamos álbuns com essas fotos e eles se vêem nestas fotos.

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